Em 2015, o cantor Belo chega a 15 anos de carreira solo. Se contarmos o período em que foi vocalista do grupo Soweto, essa conta sobe para mais de 20 anos. Em todo esse tempo, seu público acompanhou as diversas transformações pelas quais ele passou. É verdade que elas foram mais estéticas – principalmente nos últimos anos – do que sonoras. Porém, mesmo que essas mudanças tenham sido sutis, é possível ver como Belo está cada vez mais próximo ao que se convencionou chamar de MPB.
Essa nova fase fica evidente no repertório de seu disco mais recente, “Mistério”, lançado em novembro de 2014. Logo nos primeiros acordes de “Feliz”, faixa que abre o álbum, ouvimos um arranjo sofisticado de cordas. “Nesse trabalho, quis mostrar a minha verdade. Quando parti para a carreira solo, já tinha a intenção de me aproximar da MPB. Quem ouve aquele CD (‘Desafio’, 2000), percebe isso. Nesse novo disco, quis colocar muitas cordas, arranjos diferentes de tudo que já fiz”, explica. Para ajudá-lo na empreitada, Belo contou com músicos que já trabalharam com artistas como Milton Nascimento, Djavan e Ivan Lins. A produção foi dividida com Umberto Tavares.
Especialista em compor hits – principalmente para os trabalhos de Anitta, com quem divide a composição de “Zen”, “Na Batida” e “Ritmo Perfeito” – Tavares assina nove das 16 canções do novo disco de Belo, sempre em parceria com Jefferson Junior. Entre elas, estão os dois primeiros singles promocionais. Antes mesmo do disco chegar ao mercado, as rádios já executavam “Porta Aberta”. Ainda em março, o cantor começará a trabalhar a faixa “Tatuagem”, que já teve seu clipe gravado.
Outra faixa com potencial para virar hit – também assinada por Umberto Tavares e Jefferson Junior – é “Linda Rosa”, gravada em dueto com Ivete Sangalo. “Gravar com ela era um sonho antigo, mas nossas agendas nunca batiam. Dessa vez, consegui”, comemora. Além da baiana, ele ainda divide os vocais com a dupla Thaeme & Thiago na faixa que fecha o disco, ‘Até o Sol Não Nascer Mais. “Eles são grandes amigos e essa música casou muito bem nossos estilos”. A canção é assinada pelo próprio Belo, ao lado de Allan Lima e do vocalista do Imaginasamba, Suel. O cantor ainda divide as autorias das faixas “Não Sou Feliz Sem Você” e “Outra Vez”, ambas com Rafael Brito e Pedro Felipe.
Em “Mistério”, Belo volta a exibir algo que nunca fez questão de esconder: sua religiosidade. No encarte, o cantor agradece a Thalles Roberto, compositor de “Mesmo Sem Entender”, única música com temática cristã do disco. “Thalles Roberto, obrigado pelo carinho, pelas palavras de amor e de adoração. Sua canção é um presente e uma benção em minha vida”, diz o texto. No passado, ele já havia gravado as músicas “Noites Traiçoeiras” e “Força e Vitória” com o Padre Marcelo Rossi. “Sou muito ligado a Deus, mas não sigo uma religião específica. Fui batizado na Igreja Católica e minha mãe é evangélica fervorosa. Não tenho vergonha de dizer que me apeguei a Deus na dor, no momento mais difícil da minha vida. Tenho amigos que são arrebatadores em suas religiões e faço questão de mostrar minha devoção a Deus, cantando com eles”.
Algumas das músicas citadas aqui deverão fazer parte do DVD que Belo já está preparando para marcar essa nova fase da carreira. O repertório privilegiará justamente as faixas de seus dois últimos discos, “Tudo Novo” (2013) e o atual, “Mistério”. O tom misterioso também se aplica aos detalhes do projeto, que será gravado numa casa de shows do eixo Rio-São Paulo. “Estamos ajustando os detalhes e a data da gravação. Queremos gravar no início do próximo semestre, para lançar o DVD no final do ano”, explica.
Também há certa expectativa em relação ao visual que ele adotará no novo trabalho, já que seu look tem mudado constantemente nos últimos tempos. Durante essas duas décadas de carreira, o público se acostumou a vê-lo com o cabelo descolorido. Esse visual se tornou sua marca registrada e influenciou muitos fãs a fazerem o mesmo, principalmente durante os anos 90 e início dos 2000. Até por isso, muita gente ficou chocada quando Belo apareceu ostentando dreadlocks no material de divulgação do disco “Tudo Novo”, em 2013. Para o lançamento de “Mistério”, veio outra mudança. Dessa vez, o cantor preferiu adotar um corte mais tradicional. “Quando tirei os dreads, resolvi voltar ao meu cabelo normal, descansar um pouco o couro cabeludo, que sofreu durante anos com os descolorantes. Mas confesso que penso em trazer outras novidades em termos de visual para o DVD”, afirma.
Os planos de Belo não se restringem ao próximo registro em vídeo. Há algum tempo, o cantor nutre o desejo de contar sua história em livro e filme. Desde 2011, pipocam notícias em diversos veículos de comunicação sobre um possível lançamento do livro, mas o tempo passa e a obra não é publicada. Segundo ele, isso acontece pelo excesso de compromissos e como forma de não encavalar os projetos. “A ideia é falar sobre toda a minha vida, coisas como o começo na música, o sucesso, a carreira solo e os shows. Isso já está no papel. Se dependesse de mim, já estaria pronto, mas são muitas etapas”, explica o cantor. A intenção é que o livro chegue antes do filme, até porque o texto será usado como base para a produção. O ator Thiago Martins deverá ficar encarregado de interpretar Belo nas telonas. Ainda não foram divulgados detalhes do roteiro, mas Belo adianta os pontos que acha mais relevantes e que podem servir de inspiração para outras pessoas. “Acho importante destacar a infância, pois é a partir de lá que você escreve toda a sua história. Mas quando você encontra o grande amor, isso também se torna um exemplo. Casei com meu ‘Tudão’ (Gracyanne Barbosa) e quero mostrar que o amor ainda existe”.
Belo ainda tem um desejo mais inusitado e, por isso mesmo, com possibilidade de gerar um resultado bem interessante. Entre seus projetos para o futuro, está a gravação de um disco com releituras de sucessos do rock nacional. “Ainda não saiu do papel, por enquanto é só uma vontade”, afirma o cantor. Na lista de suas bandas preferidas estão Capital Inicial e Charlie Brown Jr., entre outras.